MARAVILHAMENTO – A AREIA

As crianças sentem um grande impulso de explorar e descobrir por si mesmas a maneira como os objetos se comportam no espaço quando são manipulados por elas. Na fazendinha, objetos são dispostos, bacias, panelas, funis e muitas possibilidades para criar e descobrir o mundo. Neste percurso de explorar as possibilidades, as crianças passam a se perceber parte do contexto e, na medida que investigam, vão conhecendo a si mesmas.

Gael escolhe a panela e a concha que estão logo ali. Nesta faixa etária, as crianças apreciam muito mais materiais não estruturados e suas possibilidades do que brinquedos prontos.

Ele enche uma panela com areia utilizando a concha e há um cuidado na escolha de onde buscar a areia. Ora aqui, ora ali, observamos a lógica do seu pensamento ao esvaziar e preencher a panela vazia novamente com areia. Durante longos minutos ele faz sua pesquisa e se mantem concentrado em seu fazer.

Este espaço é propositor de exploração, o simbólico está muito presente nesta faixa etária e uma culinária é feita, Manuella, Melissa e Helena se concentram e escolhem os utensílios como bacias, panelas e colheres para iniciar os combinados das receitas que cozinharão.

Enchem as bacias e panelas de areia e folhas, revezando, uma depois outra, em um ritmo respeitoso nesse brincar das delícias, sendo a amizade o ingrediente secreto que traz os melhores sabores.

Narrativas vão surgindo…

Crianças:
Helena 3 anos; Melissa 3 anos e Manuella 3 anos

“Tô mexendo minha comida com essa colher, pra não queimar!” Melissa

“Posso pegar um pouco, eu também vou fazer uma comidinha!” Helena

“Um pouquinho pra mim e outro pra você, pronto agora vai ficar gostoso!” Manuella

Dentro do tanque de areia, observo que Isaac vivencia uma pesquisa individual… Está imerso em seu fazer, vai colocando areia em uma forma utilizando uma pá até que a forma esteja totalmente cheia. Agora, ele se ajusta para desenformar, com todo cuidado e atenção, dá umas batidas na forma e depois segura com as duas mãos e vai levantando a forma. Há uma alegria satisfatória ao contemplar sua receita finalizada. Receitas que o imaginário enche de sabor!

“Ah que gostoso!” Diz Isaac.

 Uma pesquisa muito potente…

Nesta manhã de exploração, observo que Julia se concentra e movimenta seu corpo para sentir a terra. Ela manuseia, envolve as mãos no chão com movimentos de enterrá-las, observa a areia cair por entre seus dedos e o quanto, mesmo tentando tirá-la, ainda fica presa em suas mãos e dedos. Agora, bate as mãos percebendo que a terra cai e nesse ritmo sem pressa ela o faz repetidamente. Assim, vai descobrindo o elemento em uma conexão de maravilhamento.

Observo que, assim como Julia, Rafael faz movimentos de enterrar suas mãos na areia, este elemento é muito apreciado pelas crianças deste grupo e ele observa como passa por seus dedos e cai no chão. Percebo que seu encantamento se dá enquanto enterra e tira as mãos da terra misturada à areia, ele não sente medo ou receio em explorar, quer sentir a textura e o faz com entusiasmo.

Com um sorriso de alegria a cada movimento de fluidez da areia, Rafael repete os movimentos, preenchendo e esvaziando as mãos… Um processo que requer tempo e disponibilidade da criança que está entregue à sua exploração!

E o inusitado acontece…

Matheus explora os materiais e os elementos dispostos, mas algo inusitado acontece. No caminhar de cá para lá e de lá pra cá, ele encontra uma bola amarela que provoca muita surpresa e alegria. E foi neste lançar de bola, correndo pelo quintal, que se revelou para nós as gargalhadas de um jogador.

 “Tchu, tchu, tchu!” Sons feitos ao dar cada chute.

“E goool!” Diz, cheio de vibração ao correr como quem ganha um jogo!

Jogo simbólico… Minha filha

Com uma escuta ativa que potencializa a ação das crianças, percebemos que, mesmo ainda comunicando-se pouco verbalmente, as ações das crianças pequenas têm muito a nos contar…

Rafael, ao observar sua amiga Melissa em seu cuidado com a boneca, escolhe uma também. Uma bacia cheia de água com sabão e muita diversão o convida para o mundo do faz de conta.

“Essa aqui é minha filha que vai tomar banho!”

“Olha, Melissa, ela já tomou banho!”

“Agora a gente troca a roupa para passear, assim oh!”, diz Melissa.

Ambos se concentram neste brincar e no simbólico que os convida aos cuidados com sua “filha”…

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