Um ateliê é um laboratório de possibilidades e um caminho de pesquisa para crianças pequenas também. Para que ela possam vivenciar os contextos e irem construindo tantas relações com as materialidades, planejamos experiências com diferentes texturas.
A tinta de açafrão foi a escolhida para essa vivência de Ateliê fora da sala do berçário, privilegiando que cada criança conhecesse a cor viva e a pigmentação amarela intensa deste elemento, que seu corpo fosse o instrumento de descobertas e sensações a partir desta exploração.
Em propostas sensoriais tão potentes, as crianças do berçário estão explorando elementos secos como o fubá. Essas experiências possibilitam a percepção de cores, texturas e diferentes sensações.
Os utensílios ampliam a possibilidade de testes feitos pelas crianças, ora tentam colocar o fubá dentro dos medidores, ora testam a possibilidade de pegar com colheres, mas são nas mãos que encontram a ferramenta ideal de exploração, de sentir, de segurar, deixando cair entre os dedos, mas testando com todo maravilhamento da infância.
Usando as mãos, a criança explora o mundo, desenvolve seus potenciais, descobre coisas e sensações, “constrói–se” e, se construindo, ela cresce de forma saudável e feliz.
“Qualquer ajuda desnecessária é um obstáculo para o desenvolvimento.”
Explorar as cores sob diferentes perspectivas e olhares é uma linguagem própria das crianças e traduz seu mundo interior.
Neste percurso vivido por semanas, os primeiros rabiscos, a percepção da tinta sob as mãos, o corpo que desenha e deixa marcas no papel, no tecido, na parede e no chão foram narrativas visuais das experiências vividas pelas crianças na escola.
Usando as cores com água colorida, tintas ou outros objetos, elas viveram um processo de descobertas e expressão, por mãozinhas que dão vida a cada experiência.
“…Salve a inteireza da infância.
Salve a poesia do encantamento.
Salve a esperança dos começos.
Salve a coragem do inédito.
Salve as crianças da pressa.
Salve o que foi vivido e sentido nos encontros de todos os dias…
E se por um acaso, por distração, o seu tempo insistir em correr apressado…
“ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação…” (BNCC)
As experiências das crianças são muito íntimas com os materiais e elementos no cotidiano do berçário. Nesta proposta, a água colorida encanta enquanto exploram, testam possibilidades de tocar, sentir com o corpo e não só com as mãos.
Os testes também perpassam pelo corpinho que deseja adentrar as bacias e sentir a água com mais intensidade, as sensações e o frescor no contato ficam evidentes.
A água é o primeiro elemento da natureza com o qual as crianças têm contato, ainda no ventre da mãe, por isso, o maravilhamento e a sensação de calma transparece nos olhinhos e corpinhos que a exploram com muita segurança e desejo.
Como uma ação natural do ser humano, brincar de comidinha faz parte da infância desde muito cedo e é porta de entrada para o universo dos jogos simbólicos para as crianças.
No berçário isso começou a acontecer no brincar, seja no quintal ou na sala referência, até mesmo os bebês menores já concebem que alimentar-se é parte de seu cotidiano, portanto representam através de gestos e vão preparando sua comidinha, usam a colher para levar as folhas de um pote a outro e, em alguns momentos, simbolizam que estão comendo.
O faz de conta começa a ganhar sentido neste processo, os ingredientes são folhas e flores secas, sementes e areia. A cada ação, uma criança experimenta este brincar, as vezes observam o que o colega ao lado faz e reproduz, demonstrando o quanto brincar em parceria faz sentido para elas.
Como as crianças do berçário são tão curiosas, elas experimentam esses momentos diariamente quando disponibilizamos objetos e elementos para este brincar. Ali, elas estabelecem vínculos com o momento da refeição, partilham sabores imaginários e preparam suas comidas.
O quintal ou a sala podem ser um rico espaço para isso, pois cozinhar faz parte dos nossos costumes e comer é parte importante da necessidade humana, passa de geração para geração construindo memórias muito afetivas.
Crianças pequenas precisam de tempo para suas pesquisas de mundo. Esse mundo está repleto de novidades e, para elas, estar nele já é motivo de descoberta.
As educadoras do berçário, observaram que a areia é sempre um material de muito interesse para as crianças, e a partir das idas ao quintal, percebemos algo a mais: a sensação que ela causa em cada uma delas.
Para essa pesquisa, as bacias de areia foram os objetos a serem pesquisados, a areia e sua cor, sua textura, a forma como cai das mãozinhas e se pode tentar pegá-la colocando de volta na bacia. Uma pesquisa de muito movimento e curiosidade.
Para as crianças do berçário, a areia já se tornou um elemento familiar, mas que continua sendo apreciado nas experiências sensoriais como esta.
O cotidiano das crianças pequenas na escola é repleto de novidades e aprendizagens, afinal o mundo ao redor é inaugural para elas que estão sempre abertas ao novo, à exploração. Para elas existe uma conexão natural com o que as interessa…
Nesta vivência, os legumes e seus pigmentos de cores e texturas trouxeram inúmeras sensações e possibilidade de brincar, de explorar para as crianças do berçário.
Algumas crianças mais à vontade, usaram o corpo como forma de sentir, outras preferiram apenas observar vagarosamente ou usar esses elementos simbolicamente fazendo comidinhas saborosas. O cotidiano no berçário é respeitoso com os interesses que são individuais e nós, educadoras, respeitamos a cada uma em suas particularidades.
“Os pequenos nos convidam a experimentar. Eles têm a arte dentro de si. Eles criam arte. Eles nos dizem algo. Algo que perdemos. Algo atraente e sedutor. Algo que reconhecemos. E que não podemos explicar. Tudo é muito maior. Para as crianças existe uma conexão direta entre vida e obra. Essas são coisas inseparáveis.”