Processo de alfabetização – Produção textual

As propostas pedagógicas de alfabetização no Colégio Cantareira são elaboradas respeitando a criança como ser ativo neste processo, muito capaz de construir o pensamento sobre como é o funcionamento da escrita.

No grupo do 1º ano da professora Katia, as crianças já bastante competentes neste processo, construíram suas hipóteses sobre o que a escrita representa e qual seu uso no nosso cotidiano, por isso os textos coletivos e escritos individualmente tem sido parte deste trabalho, mesmo que cada criança se encontre em fases diferentes na construção da escrita.

Dentro deste contexto, durante a aula de linguagem, elas produziram textos a partir de uma imagem sobre o personagem de histórias em quadrinhos, Chico Bento. O desafio era narrarem a partir da sua observação o que aconteceu na imagem.

As escritas foram feitas espontaneamente neste momento e, por isso, preservadas, sem correção ortográfica e sem intervenção da professora.


“A escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal. ”

Emilia Ferreiro


FOLCLORE 

Durante todo o ano contemplamos as lendas e contos da cultura popular brasileira e valorizamos as manifestações artísticas que envolvem a temática do que é o folclore.

Neste sentido, no mês de agosto, o grupo da Primeiríssima Infância A esteve envolvido em contextos de aprendizagem que trouxe personagens presentes nas lendas para o foco das vivências.  

Ao conhecerem e revisitarem a história do Saci, personagem ágil e levado, as crianças demonstraram muito interesse por saberem mais. 

Os dias foram marcados pelo sentimento de euforia para descobrirem onde encontrá-lo, pela fantasia presente nas buscas pelos espaços da escola e por um desejo do grupo em ensinar coisas novas ao menino Saci Pererê.

Assim, deixamos pela escola recados para ele, alguns na tentativa de as crianças ajudarem-no a compreender o que seria uma relação respeitosa e de amizade, convidando-o a ser amigo do grupo. 

Em meio às rodas de leitura das histórias com as travessuras do Saci, surgiram discussões sobre como as crianças o percebem a partir da observação das características físicas do menino e foi possível também muitas reflexões sobre a diversidade presente nessas lendas. 

Após a escrita de uma lista com as observações das crianças, tendo a professora como escriba do grupo, o convite para um ateliê onde registraram tridimensionalmente o personagem utilizando o elemento argila. Um registro rico em detalhes, com uma percepção individual de cada criança e encantamento sobre essa vivência.

CIRANDA DO LIVRO

Nas rodas de história, as crianças tem acesso a variados títulos, mas a possibilidade da escolha, da descoberta, do encantamento por meio do desconhecido, novo, belo e misterioso.

É assim que através de algumas ações, relacionadas ao comportamento leitor, como a ciranda de livros, as crianças do 1° ano- Chuva de Ouro-  se apropriam de importantes procedimentos por entre o mundo da leitura e da escrita.

Nessas rodas diárias, seja em sala ou biblioteca, as narrativas contam inúmeras experiências, as quais ganham sentido e se tornam objetos de desejo e, na possibilidade de escolha, alguns critérios são utilizados pelos alunos, seja pelo reconhecimento de imagens significativas e favoritas, pela identificação dos trechos da narrativa, pelo convite através do título, pela curiosidade do que está por vir, bem como de quem serão os personagens.

“A leitura nos carrega para onde quisermos. Podemos mudar de um lugar para o outro, mas o lugar do conhecimento, da interpretação e da imaginação estarão sempre preservados“.

CONTEXTO DE APRENDIZAGEM: PARLENDAS

O gênero textual parlenda faz parte do folclore nacional e das propostas que trazemos para o grupo como forma também de valorizar essa tradição viva na escola garantindo experiências acerca da identidade do povo brasileiro e vivências estéticas com a beleza das rimas.

Nada mais emocionante do que ver rodas cantadas e brincadeiras com parlendas, repetindo uma tradição histórica de longa data. Brincadeiras dos nossos avós, bisavós…. Quem sabe?!!       

Há uma ludicidade presente nas parlendas que encantam as crianças e que também podem promover:

– O desenvolvimento cognitivo, pois colocam a criança em contato com desafios linguísticos que serão explorados nas parlendas;

– O desenvolvimento motor por meio da ampliação de experiências expressivas e corporais que possibilitem movimentação ampla nos momentos da brincadeira.

– O desenvolvimento de habilidades sociais já que é uma brincadeira em grupo.

– O avanço em suas hipóteses de escrita.

O grupo Pau-Brasil, da professora Katia, durante a aula de linguagem, teve a vivência com a parlenda “Rei Capitão”, proposta na qual, além de cantar e brincar com as rimas, as crianças também refletiram sobre a escrita coletiva da letra, como escrever determinadas palavras e que letras a compõe.

Para crianças em processo de aquisição da língua escrita, esses contextos trazem mais sentido às reflexões coletivas, elas apreendem novos saberes com a fala dos colegas e isso contribui com seus avanços.

Ao final, o grupo montou um cartaz coletivo com belas ilustrações e depois cada um recortou e montou em seu caderno. Cada passo desta proposta foi importante para enriquecer as discussões e privilegiar os avanços de cada criança.

“Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.”

 (Magda Soares; 2003)

Processo investigativo: grilo ou gafanhoto?

UM INSETO EM NOSSA SALA!

O DIA COMEÇOU ANIMADO, QUANDO UMA DAS CRIANÇAS DO GRUPO TROUXE PARA ESCOLA UM INSETO DENTRO DO POTINHO.

PRIMEIRO TODOS O NOMEAREM DE GRILO, PORÉM APÓS A IDA À BIBLIOTECA, AS CRIANÇAS DESCOBRIRAM, ATRAVÉS DE UM LIVRO DE ANIMAIS DE JARDIM, QUE AS CARACTERÍSTICAS DELE ERAM SEMELHANTES A DE UM GAFANHOTO. E AGORA, GRILO OU GAFANHOTO?

A MELHOR FORMA DE DESCOBRIR SERIA PESQUISANDO…

Juntos fizemos uma pesquisa no computador. Nosso tempo era curto, pois ele estava vivo dentro do pote e não queríamos que ele morresse, mas tínhamos um problema: era difícil observar todas as características com ele se movimentando. Então, cada criança passou a olhar o pote e dizer o que via para que pudéssemos fazer uma lista o quanto antes.

-“Ele tem antenas curtas!” – observou Joaquim.

-“Ele tem pernas longas e gorduchas” – continuou João.

-“E o corpo é todo marrom” – ressaltou Hayla.

O DIA SEGUINTE…

Porém, no dia seguinte, o inseto amanheceu morto dentro do vidro. Por um momento houve um sentimento de tristeza, e reflexão sobre o que havia acontecido. Logo surgiu algo interessante, podíamos investigar ele melhor, já que ficaria imóvel…

Com o uso de lupas, as crianças ressaltaram mais detalhes e, junto com a pesquisa feita na internet, pudemos comparar características e descobrir que, na verdade, ele não era da família dos grilos, mas dos gafanhotos…Seria um gafanhoto bebê?

Poderia ser, principalmente por uma das características observadas pelas crianças é que grilos têm um “rabinho” e gafanhotos não. Nossa espécie não tinha “rabinho”, então seria mesmo um gafanhoto?

“Pula!” – Alexandre
“Ele tem pintinhas marrom escuro.”  – Lorena
“Eu não vejo rabinho nele, então é gafanhoto!” – Isabella
“Também acho que é grilo, a perna não é igual a da foto” – Lorenzo P.

MICROSCÓPIO!

Decidimos colocá-lo num microscópio para observar mais detalhes e chegarmos realmente a uma conclusão.

Chamamos a turma do G4A para nos ajudar e para compartilhar esse momento.

Listamos as características observadas por todos e, assim, iniciamos a observação pelo microscópio cujas imagens eram aumentadas na tela da TV, enquanto a auxiliar focava da mesa o ângulo certo.

Face, antenas, pernas e até supostas asas foram observadas por todos e a conclusão logo chegaria ao final.

FINALMENTE…

1.

Observamos ele de perto.

2.

Levantamos todas as características.

3.

Fizemos uma grande assembleia e, juntos, chegamos à conclusão. Era um GAFANHOTO!

Um inseto simples de jardim, se transformou num processo investigativo sobre que animal realmente seria e proporcionou às crianças explorar informações, fazer comparações, registros e observar de perto cada detalhe, ajudando a descobrir como vivem, o que comem e onde gostam de ficar na natureza.

O olhar da criança para a natureza

Existe uma relação de sensibilidade e encantamento entre a criança e a natureza. É através da sensibilidade, em plena atividade, que a criança está aberta para as descobertas, para conhecer o mundo.

“A importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”

Manoel de Barros

E quando a sensibilidade está aflorada, a experiência acontece completamente, o encantamento está presente!

Durante o parque  é possível observar situações de investigação e de um olhar sensível das crianças em busca de explicações para diversos fenômenos naturais.

Convidamos as crianças para irem até o quintal da escola e, em uma grande roda, pedimos que elas falassem tudo que estavam vendo. 

“FITAS” – Giovanna

“A FOLHA” – Lucca

TERRA – Vicente

UMA FLOR BRANCA NO VASO – Maya

“EU VI UM BICHO NA FOLHA” – Bernardo

“PRÔ BIANCA, EU VI UMA PIPA VOANDO” – Laura

“A LUA” – Julia

“CÉU” – Gabriel

Após essa primeira observação, pedimos então que olhassem novamente, mas que agora encontrassem algo que não tinham visto ou dito antes.

“AREIA QUE A GENTE COLOCA NA PANELINHA” – LAURA

“LÂMPADA” – BERNARDO

“A COCÓ (GALINHA)” – GABRIEL

Então, perguntamos: “De tudo que viram, o que são elementos vivos? Que precisa de ar, água, alimento para sobreviver?”

“BICHINHO!” – MAYA

Após um tempo, perguntamos: “E nós? E as folhas?”

Percebemos que, ao observar a natureza, dificilmente alguém cita outra pessoa como parte integrante do mundo natural, porém, somos seres vivos e fazemos parte dela.

Assim como os bichos, nós e as plantas também somos seres vivos, necessitamos da água, do sol e do solo para sobreviver. Os seres vivos são aqueles que nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Sendo assim, o ciclo da vida.

Para enriquecer ainda mais a nossa pesquisa, trouxemos a leitura do livro “O que é que tem no quintal?”  que incentiva a criança a observar e se divertir do lado de fora da casa.

Ao final, convidamos as crianças para coletarem as folhas do nosso quintal que já tinham encerrado seu ciclo de vida, folhas secas.

Muitos artistas buscam na natureza inspiração para suas criações. Aproveitamos para apresentar às crianças a artista e fotógrafa  Emily Blincoe, ela recolhe todo o material para compor suas obras do quintal.

Após apreciarem algumas de suas obras, convidamos as crianças para criarem suas próprias obras.

INVESTIGAÇÃO – FOLHAS DA NOSSA ESCOLA

Investigar e descobrir o mundo ao redor pode ser mágico, um convite à exploração e um olhar sensível para o que nos rodeia.

No grupo do G4A foi possível contemplar em que espaços a beleza natural está presente, seja nas árvores, nas flores, nos pássaros que nos visitam a todo momento, no ar puro que respiramos próximos à Serra da Cantareira ou mesmo no céu azul. Nesta vivência, as crianças despertaram um olhar de perto para as folhas encontradas pelo caminho, o que gerou um registro em Ateliê.

Enxergar os detalhes e as belezas naturais faz parte do desenvolvimento e da formação das crianças, estimulando hábitos de vida mais saudáveis, respeito ao meio ambiente e os seres encantadores como os bichinhos de jardim.

Neste dia, o G4A da professora Beatriz, pôde experimentar este momento leve e livre de observar e se deixar encantar, um dia muito prazeroso que ficará marcado nas memórias da infância de cada criança deste grupo.

“O contato com a natureza melhora todos os marcos mais importantes de uma infância saudável – imunidade, memória, sono, capacidade de aprendizado, sociabilidade, capacidade física – e contribuiu significativamente para o bem-estar integral das crianças e jovens. As evidências apontam que os benefícios são mútuos: assim como as crianças e adolescentes precisam da natureza, a natureza precisa das crianças e jovens”.

Programa Criança e Natureza e Sociedade Brasileira de Pediatria, 2019

O espaço que habitamos contribui com as habilidades artísticas

Promovemos para as crianças do grupo sempre um convite para conhecer e
explorar o mundo, neste sentido as experiências conectadas à natureza fazem
parte deste cotidiano.

Escolhemos os elementos naturais para compor esta proposta artística, no
processo notamos a afinidade que existe entre cada criança e esses elementos
encontrados pela escola.

Ao experienciar, as crianças da professora Paula da Primeiríssima Infância, vão descobrindo sobre apreciar a natureza e, como são sensíveis ao mundo natural, aprendem a cuidar dele, o respeitar, pois reconhecem que pertencem a este meio ambiente.

A partir de conhecimentos que vão construindo, elas têm o desafio de
perceber, observar e escolher os materiais para uma obra muito especial, com
formas, cores e composições naturais.

Observa-se a percepção individual de cada criança sobre as nuances de cores,
as linhas impressas a cada elemento encontrado e a combinação feita para
compor esta obra.

Nossos insetos

Ao longo do primeiro semestre, as crianças do G4B desbravaram o espaço do quintal e, neste espaço tão familiar, conheceram alguns bichinhos que residiam ali.

Para este grupo de crianças curiosas e exploradoras, cada encontro com algo
inusitado era sempre um grande acontecimento, por isso, tudo se tornava pesquisa. O
toque, o olhar atento e essa curiosidade que é natural da infância foram importantes
para que, ao passar dos dias, elas guardassem memórias e, sempre que se
lembravam, questionavam a professora:

“Prô, não que era um grilo mesmo aquele dia no quintal? Ele pulava muito alto! Só a cor que era diferente, mas ele não era outro bichinho, era um grilo!”

“A Libélula apareceu no quintal também porque ela voa onde tem planta! Pera,
mas ela come o bichinho, não é?”

“Uau, era um lagarto no quintal, eu tenho certeza! Ai, mas lagartixa é um lagarto também?”

Foi um percurso de muitas descobertas ao transitarmos pela escola e as crianças irem construindo conhecimento de mundo através do espaço que habitam.

Percebemos então, que poderíamos ampliar essa pesquisa e compartilhar com os outros grupos da escola todos os bichinhos que conhecemos. A professora propôs:

“Podemos fazer um INSETÁRIO, recolher e expor os bichinhos que encontramos
já sem vida. Pesquisamos e disponibilizamos as informações… o que acham?”

O grupo vibrou e, antes do início das Férias, iniciamos nossa produção com muito desejo e curiosidade. Nos aguardem para o próximo semestre com muita descoberta, informações surpreendentes e trocas de saberes.

Brincando de cozinhar…

Como uma ação natural do ser humano, brincar de comidinha faz parte da infância desde muito cedo e é porta de entrada para o universo dos jogos simbólicos para as crianças.

No berçário isso começou a acontecer no brincar, seja no quintal ou na sala referência, até mesmo os bebês menores já concebem que alimentar-se é parte de seu cotidiano, portanto representam através de gestos e vão preparando sua comidinha, usam a colher para levar as folhas de um pote a outro e, em alguns momentos, simbolizam que estão comendo.

O faz de conta começa a ganhar sentido neste processo, os ingredientes são folhas e flores secas, sementes e areia. A cada ação, uma criança experimenta este brincar, as vezes observam o que o colega ao lado faz e reproduz, demonstrando o quanto brincar em parceria faz sentido para elas.

Como as crianças do berçário são tão curiosas, elas experimentam esses momentos diariamente quando disponibilizamos objetos e elementos para este brincar. Ali, elas estabelecem vínculos com o momento da refeição, partilham sabores imaginários e preparam suas comidas.

O quintal ou a sala podem ser um rico espaço para isso, pois cozinhar faz parte dos nossos costumes e comer é parte importante da necessidade humana, passa de geração para geração construindo memórias muito afetivas.